Acidente da maior plataforma do mundo já evidenciava o sucateamento

Hoje, 15 de março, relembramos um acontecimento muito triste na história da categoria petroleira. Faz 20 anos que ocorreu a tragédia da P-36, plataforma da Petrobrás que afundou em 2001 e causou a morte de 11 trabalhadores.

A construção da P-36 começou na Itália, em 1995, e terminou no Canadá, em 2000. A plataforma fazia parte do projeto de desenvolvimento da produção do campo gigante de Roncador, na Bacia de Campos, a 130 km da costa do estado do Rio de Janeiro, para produção diária de 184 mil barris de petróleo.


No dia fatídico, 175 trabalhadores estavam a bordo. Era madrugada quando houve uma explosão em uma das colunas da plataforma, seguida de outras duas. Passados cinco dias, após várias tentativas frustradas de estabilização da unidade, a gigantesca estrutura de metal submergiu completamente, com cerca de 1,5 mil toneladas de óleo, levando para o fundo do mar os corpos de nove trabalhadores, de um total de 11 mortos. Todos eram integrantes da brigada de incêndio.
Na época, a P-36 era considerada a maior plataforma do mundo de produção de petróleo em alto mar. A tragédia tornou-se um dos maiores desastres na história da Petrobrás e da indústria petrolífera e deixou evidente o desmonte que a empresa sofreu ao longo dos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso (de 1995 a 2003), que tinha como uma das metas de governo a privatização da estatal.

O acidente foi investigado pela empresa e por órgãos externos. O relatório emitido pela ANP (Agência Nacional do Petróleo) e a Marinha registra que “a investigação realizada acerca do acidente da plataforma P-36 conduziu à identificação de não conformidades quanto a procedimentos regulamentares de operação, manutenção e projeto”. Há, inclusive, registros na imprensa, daquele período, de denúncias de trabalhadores sobre vazamentos de gás na unidade que não foram devidamente tratadas.

A principal função das investigações dos acidentes é identificar as causas para, a partir desse aprendizado, evitar ocorrências similares. Um acidente não tem uma única causa, são várias causas que, em atuação conjunta, levam ao fato.

O relatório da ANP está disponível na internet, não entrarei em detalhes, já que as causas e recomendações estão devidamente elencadas e analisadas, mas quero ressaltar aqui uma recomendação especificamente:

• Reavaliar o dimensionamento e a qualificação das equipes de operação e manutenção de unidades marítimas, bem como daquelas responsáveis pela resposta a emergências de grande risco.

Essa recomendação merece um destaque especial neste momento, principalmente, em função de denúncias recentes dos trabalhadores offshore sobre algumas iniciativas, por parte da gestão da empresa, de terceirização das funções de técnicos de lastro/estabilidade, de manutenção e operação.

Isso vai totalmente de encontro à recomendação em destaque, visto que a terceirização, por características contratuais, que na atualidade está ainda mais precarizada pela busca de custos baixos, traz em si uma alta rotatividade (turnover) e deficiência dos treinamentos, o que, em atividades críticas como as citadas, não pode ser admitido, sob pena de colocar em risco as vidas, o meio ambiente e o patrimônio.

Espero que tenha havido algum engano em relação a essas denúncias, já que o tempo não apaga o acidente da P-36 e suas consequências, nem mesmo 20 anos depois, nem nunca. Não há tempo capaz de eliminar essa trágica e triste lembrança. A maior plataforma do mundo naufragou e 11 trabalhadores perderam a vida. A lição não pode ser esquecida, nunca.