Autorização para venda da Gaspetro deve ser reavaliada, segundo conselheira do Cade

A conselheira do Conselho Administrativo de Defesa Ecônomica (Cade) Lenisa Prado pediu que a autorização de venda da Gaspetro para a Compass, que foi concedida pela autarquia federal no início deste mês de março, seja reavaliada. A justificativa de Lenisa é que essa operação envolve subsidiárias da Petrobrás (Gaspetro) e Cosan (Compass), ferindo o acordo que a estatal fez com o Cade, que previa a venda de uma série de ativos por parte da petrolífera e estipulava condições que devem ser cumpridas pelos compradores.


Esse acordo foi estabelecido principalmente para diminuir a verticalização no setor. “No meu entendimento, a alienação apenas retira o atual monopolista de diversos elos da cadeia, a Petrobras, e potencialmente transfere uma posição quase equivalente a um novo player — a Compass e o Grupo Cosan —, não cumprindo com os objetivos almejados no TCC [o acordo], de justamente desverticalizar o setor”, pontuou a conselheira.

E ela tem razão. Em julho do ano passado, quando a proposta de venda da Gaspetro foi aprovada pelo Conselho de Administração da Petrobrás, com meu voto contrário, eu argumentei que considero um péssimo negócio tanto para a companhia quanto para o país. Além de apequenar nossa Petrobrás, amputando sua integração e verticalização, essa venda permitirá a concentração das atividades nas mãos de uma empresa privada.

Como eu já disse anteriormente, a Compass Gás e Energia S.A. é dona da Comgás, maior distribuidora de gás do país que atua em São Paulo. E ela pertence ao grupo Cosan, que atua no segmento de gás e energia e na produção de açúcar, etanol, bioenergia, e é sócia da Shell na distribuição e comercialização de derivados. A Shell, por sua vez, é a segunda maior produtora de gás do Brasil, atrás apenas da Petrobrás, que é sua maior concorrente.

A preocupação de Lenisa Prado tem total fundamento demonstrando profissionalismo, tecnicidade e imparcialidade em sua análise. Esse posicionamento pode vir a inviabilizar a venda da Gaspetro, tendo em vista a atual composição do Cade. Com duas vagas em aberto, a autarquia tem cinco conselheiros, sendo que três deles, incluindo Lenisa, sinalizam que votariam contra a operação. A venda da Gaspetro pode ter um novo desfecho, que será muito mais benéfico para a Petrobrás e o país.