Biorrefino: um olhar mais profundo e crítico sobre o tema

A Petrobrás anunciou na semana passada que alcançou um marco histórico: pela primeira vez, conseguiu processar óleo de soja em uma unidade de refino industrial. A tecnologia foi desenvolvida pelo Cenpes (Centro de Pesquisas, Desenvolvimento e Inovação) e, segundo a companhia, “permite transformar matérias-primas renováveis em produtos petroquímicos integralmente renováveis.” O feito inédito foi bastante comemorado pela gestão da empresa, que tem como uma de suas prioridades a transição energética.


Mas será que o refino do óleo de soja é uma decisão coerente em busca da sustentabilidade? Na opinião do vice-presidente da Aepet (Associação dos Engenheiros da Petrobrás), Felipe Coutinho, não! Um artigo dele, publicado nesta quinta-feira (16/11) no site da entidade, trata exatamente desse tema e vai ao encontro à minha opinião sobre o tema em diversos aspectos.

O primeiro ponto abordado por Coutinho é que a produção de óleo de soja não é 100% renovável, depende de insumos de origem fóssil e não existe capacidade de se produzir o produto em escala proporcional à demanda de combustíveis líquidos no país. Também não existe infraestrutura para seu escoamento e transporte por dutos ou ferrovias até as refinarias. E mais, o custo de produção de combustíveis a partir do óleo de soja é muito maior que o de refino de petróleo e, certamente, terá reflexos econômicos negativos ao país.

Para o engenheiro, “a decisão de processar óleo de soja nas refinarias da Petrobrás é um péssimo negócio para a companhia que dispõe de excedente de petróleo cru que tem sido exportado”. Ele ressalta ainda que essa decisão “prejudica a economia nacional e beneficia companhias estrangeiras produtoras e comercializadoras do complexo da soja.”

A sustentabilidade não passa pela monocultura em larga escala. Considero importante o teste do biorrefino de óleo de soja com tecnologia desenvolvida em nosso centro de pesquisas. Excelente! Mas não podemos parar por aí. Quais as alternativas sustentáveis que temos para o biorrefino? A Pbio protagonizou um projeto sustentável ao produzir biodiesel a partir de uma mistura de insumos que, sim, continha soja, mas em pequena escala, e também continha óleo de mamona além de outros cultivos, e sebo de boi e óleo de cozinha usado, que são resíduos. O projeto da Pbio previa o fomento da agricultura familiar sem competição com a produção de alimentos. Um olhar econômico, social e ecológico.

Já a produção da soja em larga escala não atende a critérios de sustentabilidade: o uso intensivo de agrotóxicos, o desmatamento de vastas áreas etc. Paradoxalmente, no Brasil, o maior responsável pelas emissões de gases de efeito estufa é exatamente a ocupação do solo.

É preciso, então, comprovada a possibilidade tecnológica de refinar soja e obter um combustível, buscar alternativas de outras fontes “renováveis” e, em paralelo, aprofundar os estudos de viabilidade econômica e ambiental dessa produção, sua sustentabilidade. Meu colega Felipe Coutinho já apontou uma série de questões seríssimas que precisam e devem ser consideradas e aprofundas.

Recomendo a leitura do rico artigo publicado pela Aepet: https://aepet.org.br/artigo/processar-oleo-de-soja-nas-refinarias-da-petrobras-e-uma-pessima-decisao-disfarcada-de-verde/

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