A Petrobrás divulgou dois comunicados na noite de quarta-feira (17) sobre dois ativos hibernados, cujos destinos são antagônicos. A coincidência da data dos anúncios é realmente interessante, uma vez que a notícia “positiva” ofuscou a negativa, afinal estamos em tempos de otimismo, não é mesmo? A companhia informou que foram aprovados o “início da reativação de fábrica de fertilizantes em Araucária (PR)” e a privatização dos campos de Cherne e Bagre.
Os dois ativos são simbólicos para a categoria petroleira. Os campos de Cherne e Bagre fazem parte do Polo de Garoupa, na Bacia de Campos, e foram colocados à venda em 2019, mas diante do insucesso da privatização, acabaram hibernados em março de 2020. E assim seguiram, fora de operação, ao longo de 2023 e 2024. Lamentável constatar que o destino desses campos seguiu o rumo traçado em 2019, sem nenhuma mudança de rota.
A companhia diz, em seu informe, que “a transferência desses campos para a Perenco traz a perspectiva de retomada da produção pelo novo operador, configurando alternativa mais vantajosa para a Petrobras em comparação à opção de descomissionamento das instalações e devolução das concessões à ANP”. Esse filme, assistimos nos idos entre 2020 e 2022, com o mesmo roteiro.
Mas fica aquela dúvida no ar: por que a operação desses campos é interessante para a Perenco, mas não é interessante para a Petrobrás? Talvez porque a lucratividade deles não passe no gabarito do lucro dos campos do pré-sal. A Ansa ou Fafen/PR, assim como os campos de Cherne e Bagre, foi colocada à venda na gestão Castello Branco e hibernada em fevereiro de 2020, quando, em reação à essa medida, foi deflagrada uma belíssima e forte greve que durou 20 dias, em pleno governo fascista.
Quanto ao comunicado sobre a Ansa, o texto é bem claro ao afirmar que trata-se da aprovação de “medidas iniciais para a revitalização e futura retomada das operações” da Fafen Paraná. “Em relação à ANSA, a Diretoria Executiva aprovou a negociação com ex-empregados, e junto ao Tribunal Superior do Trabalho (TST), dos termos da contratação; e o início dos trâmites para contratação de serviços de manutenção e materiais críticos relativos à retomada da planta industrial. Tanto os acordos trabalhistas quanto a realização das licitações e contratações ficaram condicionados a uma nova deliberação da Diretoria Executiva, quando os procedimentos estiverem bem definidos.”
Importante ler atentamente o trecho grifado. De fato, a companhia não apresenta uma decisão concreta para a reativação da Ansa. A decisão comunicada é “noves fora” de continuar os estudos e negociações que estão em curso desde o ano passado. E, futuramente, quando as informações ou projetos estiverem mais definidos e estruturados, serem novamente submetidos à aprovação da Diretoria Executiva. Ou seja, de fato e na prática, não há nada de novo. Lembrando novamente que o CA, por iniciativa de seu presidente e da representante dos empregados, inseriu e aprovou a retomada dos fertilizantes pela companhia em seus direcionadores estratégicos do “PE 24-28”, na primeira reunião ordinária com a nova composição do colegiado, em 31 de maio de 2023. Quase um ano atrás.
O que vemos é uma inversão do que queremos: que os anúncios sobre a Ansa sucedam ações concretas, de tal sorte que a reativação de fato aconteça o quanto antes. Suportamos e resistimos por anos o desmonte iniciado no golpe de 2016 e acelerado e aprofundado a partir de 2019. Agora temos pressa, muita pressa. O Brasil tem pressa.