Já falamos por diversas vezes sobre a importância da retomada da produção de fertilizantes pela Petrobrás. E, finalmente, recebemos a grande notícia de que a Ansa/Fafen (Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados) de Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba, será reaberta. Ainda não há uma data definida para o reinício da operação, mas a expectativa é que isso aconteça muito em breve. A fábrica paranaense deverá ser a primeira unidade da Petrobrás a voltar a operar no país.
A Fafen/PR foi fechada em março de 2020, com a demissão de cerca de mil trabalhadores próprios e terceirizados. A reabertura dessa unidade é muito importante não só para a geração de milhares de empregos e para o aquecimento da economia local, como também para o aumento da oferta de fertilizantes nitrogenados no país, reduzindo a importação desses insumos, tão necessários para a agricultura.
Foi constituído um Grupo de Trabalho multidisciplinar para analisar a reabertura da fábrica, cujos resultados são positivos.
Por outro lado, nesta quinta-feira (29), a companhia informou que assinou com a Yara Brasil Fertilizantes S.A. um Memorando de Entendimentos (MoU) visando estudos de potenciais parcerias de negócios para iniciativas locais no segmento de fertilizantes, produção de produtos industriais e descarbonização da produção.
Vejo com muita preocupação a opção de atuar intensamente através de parcerias. Na minha opinião, as parcerias devem ter um caráter muito seletivo, criterioso e estratégico. O maior bem intangível da Petrobrás é o conhecimento, que também é nosso maior diferencial competitivo. O desmonte do conhecimento na companhia, construído ao longo de décadas com muito investimento financeiro e humano, se deu também através das “parcerias estratégicas” das eras Bendine e Pedro Parente.
Precisamos de parceiros em tantas áreas estratégicas, inclusive nas quais desenvolvemos tecnologias próprias e assumindo riscos sozinhos? Precisamos de parceiros para produzir fertilizantes?
Quando os preços “bombarem” no exterior teremos que negociar com a parceira do setor privado se abastecemos o mercado interno ou exportamos para aumentar os lucros? O que fez a Unigel, empresa privada arrendatária das Fafens BA e SE, quando o conflito Ucrânia e Rússia elevou os preços? A resposta: aumentou as exportações.
Além da volta da Fafen/PR, a Petrobrás tem planos de finalizar as obras da UFN3, a Unidade de Fertilizantes Nitrogenados de Três Lagoas (MS), que estão paradas desde dezembro de 2014, e retomar a produção das Fafens Bahia e Sergipe.
Com essas quatro unidades novamente em operação, a estimativa é que a dependência da importação de fertilizantes nitrogenados no Brasil caia para algo em torno de 10% a 15% – hoje, cerca de 85% da demanda nacional vem de fora do país, principalmente da Rússia.
O Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de alimentos do planeta e tem na agricultura familiar e nos pequenos agricultores a principal fonte da alimentação da população. Retomar a produção de fertilizantes nitrogenados é um passo fundamental e necessário rumo à nossa independência e proteção de futuras crises no setor. Mas nossa segurança alimentar só será garantida se tivermos absoluto controle sobre a produção e comercialização desses críticos insumos, o que percebo em risco sob a égide das parcerias.