As verdades (que poucos contam) sobre as ‘energias renováveis’

A Petrobrás entrou com pedidos junto ao Ibama de licenciamento ambiental para 10 parques de energia eólica offshore, na costa do país, o equivalente a 23 GW (gigawatts). A companhia anunciou que os projetos contemplam sete áreas em alto mar na região Nordeste, abrangendo os estados do Rio Grande do Norte, Ceará e Maranhão; duas no Sudeste, no Rio de Janeiro e Espírito Santo; e uma no Sul, na capital gaúcha.
A direção da empresa tem demonstrado grande vigor em investir nas “energias renováveis” e trazer a transição energética para o centro do debate nacional. O entusiasmo é positivo, mas a iniciativa envolve muitos desafios e uma série de questões polêmicas, como aponta o historiador e doutor em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Gustavo José Simões.


Em um artigo, divulgado pela Aepet (Associação dos Engenheiros da Petrobrás), ele aborda esse tema de forma muito transparente, “com verdades inconvenientes”, como faz questão de salientar, “que precisam ser discutidas”. Gustavo descortina e desmistifica a tão propalada “perfeição da energia verde”.
“A energia verde não é exatamente o que parece, não nos salvará. Não existe energia completamente limpa”, diz ele. E com razão, porque as energias “renováveis” são cercadas de impactos ambientais e sociais – alguns deles já cheguei a abordar há pouco tempo.
O engenheiro lembra que a “tecnologia verde” demanda a fabricação de equipamentos cujos materiais não são renováveis. Há necessidade de se produzir grandes quantidades de metais e terras raras para viabilizar a “energia verde” e sua extração resulta em impactos ambientais e sociais muito maiores que os advindos da produção dos combustíveis fósseis.
Motores elétricos têm presença de neodímio, a bateria de um carro elétrico não funcionará sem metais raros, como o cobalto, o grafite e especialmente o lítio. Motores, rotores de turbinas eólicas e células dos painéis solares também se utilizam desses tipos de metais.
Outro agravante: muitos desses materiais são radioativos e de difícil extração. “Os projetos de mineração para extrair esses metais podem levar, em média, 16 anos para entrar em operação”. A transição energética vai aumentar absurdamente a procura pelos metais e, consequentemente, sua escassez.
Gustavo revela que precisaremos de uma produção mundial imensa de minerais para viabilizar a transição energética. “Ou seja, da dependência do petróleo, surgirá a dependência desses minerais”, que deverão ser produzidos através de processos industriais mais custosos e que sacrificam o meio ambiente e a saúde das pessoas. Sem contar que a produção desses materiais também depende de energias fósseis.
É fato que as “energias renováveis” e a “tecnologia verde” trazem consigo impactos socioambientais e têm problemas inerentes de intermitência de geração e transmissão, não sendo corretas sua idealização e romantização. É preciso ampliar o debate e aprofundar os estudos sobre os impactos e limitações dessas alternativas, sob pena de criarmos uma crise socioambiental de proporções ainda maiores.
É também fundamental a regulação do setor “renovável” e o aprofundamento e ampliação dos estudos de impactos socioambientais para licitação e licenciamento das áreas destinadas à exploração dessas fontes de energia, aos moldes já realizados para as demais fontes, considerando, principalmente, todo o processo para sua geração. Esperamos do Ibama a mesma responsabilidade para com o licenciamento das “fontes renováveis”.
Acredito no potencial do Brasil e da Petrobrás no desenvolvimento de “energias renováveis”, mas a transição energética deve ser tratada com muita responsabilidade e honestidade intelectual, não como a fórmula mágica para a solução dos problemas planetários. Gustavo traz um questionamento em seu artigo, que deve nos servir de alerta: “E se os males da tecnologia verde forem piores dos que os males dos combustíveis fósseis?”.

Confira o artigo completo: https://aepet.org.br/artigo/verdades-inconvenientes-sobre-as-energias-verdes/