Gerar empregos e desenvolver a indústria no Brasil ou no exterior: eis a questão!

O presidente da Petrobrás, Jean Paul Prates, declarou há poucos dias que vai “lotar estaleiros” brasileiros com obras. Sua promessa ganhou repercussão na imprensa e aqueceu o debate interno na companhia, onde ainda não se tem consenso sobre o que é melhor: o afretamento ou a produção local. E isso foi admitido pelo próprio presidente da empresa.

Uma dúvida que, a meu ver, não deveria existir, principalmente se considerarmos o compromisso político do novo governo eleito e o papel protagonista da Petrobrás à frente do programa de retomada da indústria naval. Segmento esse, aliás, que foi desmantelado nos últimos governos desde a fatídica operação Lava Jato, agente do golpe parlamentar em 2016.

Embora não devesse, a questão do afretamento é polêmica e enraizada. Segundo afirmou Prates, criou-se dentro da companhia uma cultura radicada de que é mais competitivo alugar um navio ou plataforma do que construi-lo aqui. Segundo levantamento do Dieese, o afretamento é mais ineficiente – mês passado falamos sobre o levantamento realizado pelo Dieese que mostra que o custo do petróleo e gás extraídos nas plataformas operadas pela própria Petrobrás, na Bacia de Campos, é mais baixo do que o da maioria das unidades afretadas.

Até o momento foi anunciado o planejamento de afretar quatro FPSO: dois para atender aos projetos Seap 1 e 2 (Sergipe Águas Profundas), um para o campo de Albacora e um para Barracuda Caratinga. Em tempos de ESG, o “S” de social precisa ter o mesmo peso do “Enviromental” e “Governance” e, nesse sentido, é preciso destacar que as empresas devem gerar lucro sim, mas com propósito. E isso faz toda a diferença.

E por falar em propósito, como gerar empregos, impulsionar a indústria naval e toda a sua cadeia que passa pela siderurgia, engenharia pesada, prestação de serviços etc., afretando unidades ao invés de construí-las aqui?

Foram também anunciadas com entusiasmo, a contratação de 38 embarcações de apoio. Mas todas serão igualmente afretadas, com suporte de uma exigência mínima de conteúdo local e a garantia legal que, em caso de concorrência, a preferência é para as de bandeira brasileira. Mas uma embarcação de bandeira nacional não necessariamente é construída no Brasil e a decisão de onde construí-las será dos vencedores das licitações.

Certo é que a política de conteúdo local promove a geração de empregos e é uma das estratégias mais eficientes para o crescimento industrial e econômico. Faz-se urgente a revisão pelo governo federal dessa política.

Mas certo é também que a direção da Petrobrás, sem prejuízo de sua lucratividade, pode e deve fazer mais, muito mais. Não cabem resistências internas. Há um sócio controlador que indicou, direta ou indiretamente, a nova diretoria, e que precisa ter isso muito claro. É necessário virar a página, ousar e resgatar o DNA da companhia.

A Petrobrás tem uma missão para com o Brasil que inspirou e justificou a sua criação. Nunca coube, muito menos no contexto atual, ignorar ou relevar essa importante missão. O Brasil merece mais. O Brasil tem pressa.