Programa debate retomada das fábricas de fertilizantes: um ensaio que não sai do papel

“Petrobrás ensaia retomada de fábricas de fertilizantes”. Esse foi o tema do programa Da Prática Política, transmitido pelo YouTube e redes sociais, que participei na noite de segunda-feira (6). Na conversa com o jornalista Claudio Porto, falei especialmente sobre a situação das fábricas de fertilizantes nitrogenados (fafens) no país, as parcerias da Petrobrás com empresas privadas e a lentidão do processo para que essas unidades voltem a operar.
Fiz um breve histórico para contextualizar o cenário atual das fafens, mostrando, inclusive, como nossa dependência da importação de fertilizantes aumentou nos últimos anos, saindo de 50% em 1997 para 85% em 2022. Infelizmente, temos hoje dependência quase total dos fertilizantes de outros países e vivemos uma insegurança alimentar muito grande no Brasil.
Destaquei a lentidão do processo de retomada das fafens. Sabemos das dificuldades, tivemos uma redução drástica de efetivo, enfrentamos por seis anos o desmonte da companhia e, sim, reconstruir é muito trabalhoso, mas é preciso acelerar o ritmo desses processos.


Outra questão que voltei a enfatizar, porque me preocupa por demais, é essa vocação da atual gestão para as parcerias. Considero esse assunto muito sensível porque o desmonte da Petrobrás se iniciou pelas “parcerias estratégicas” na era Pedro Parente. Lembremos que no processo de parceria, o conhecimento, maior bem intangível da nossa empresa, tão cobiçado pelas nossas concorrentes, é compartilhado, reduzindo nosso diferencial competitivo em muitas áreas estratégicas. Assim se deu com os campos do pré-sal, cujo conhecimento, extremamente estratégico e exclusivo da Petrobrás à época, foi compartilhado.
A Petrobrás não precisa de parcerias na maioria de suas atividades, inclusive para o setor de fertilizantes, onde tem a expertise.
Na área de fertilizantes, a questão mais preocupante é a estratégica, pois significa negociar com um parceiro privado um setor que é crucial para a segurança alimentar do Brasil, uma potência agrícola. Lembremos do caso da Unigel, arrendatária das fafens de Sergipe e Bahia, que decidiu aumentar as exportações quando o conflito Ucrânia e Rússia elevou os preços internacionais dos fertilizantes.
Setores como energia, abastecimento e tratamento de água, fertilizantes, entre outros, são estratégicos para o país e precisam de gestão pública, sob o risco de desabastecimento e insegurança da população.
Precisamos retomar a produção das fafens o mais rápido possível, afinal, praticamente um ano se passou desde a decisão do CA de retornar o setor de fertilizantes e, de concreto, temos quase nada nessa direção.