“Quanto mais importadores, mais difícil romper com o PPI”, afirma Rosangela Buzanelli

De acordo com a representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da Petrobras, a arquitetura do PPI (Preço de Paridade de Importação) favorece os importadores para dificultar qualquer tentativa de mudança da política de preços

Por Felipe Salgado Em 4/07/2022
(https://petroleohoje.editorabrasilenergia.com.br/quanto-mais-importadores-mais-dificil-romper-com-a-ppi-afirma-rosangela-buzanelli/)

Com 35 anos de Petrobras, a geofísica Rosangela Buzanelli é a representante dos trabalhadores no Conselho de Administração, onde se define como “a única não privatista”. Embora seja voz isolada e voto vencido na composição atual do CA, formado por mais seis representantes do Governo Federal e quatro dos acionistas minoritários, Rosangela é a única que carrega o “DNA da Petrobras”.

Diante dos sinais contraditórios emitidos pelo governo, o acionista controlador da empresa, que ora ameaça intervir, ora pretende privatizá-la, Rosangela avalia que a confusão tem método. Os objetivos, afinal, são três: eximi-lo de sua responsabilidade sobre a política de preços, agradar a base eleitoral e, sobretudo, jogar a Petrobras contra a sociedade para criar um clima de insatisfação e apoio popular para a sua privatização.

Indagada sobre a política de preços, Rosangela acredita que não é difícil derrubá-la, mas o governo tem que entrar em ação. Em sua avaliação, criou-se uma arquitetura induzida para favorecer importadores e desencorajar o refino nacional para tornar o PPI um fato incontornável da vida nacional. Parte da estratégia, ela diz, inclui a venda das refinarias da Petrobras, que não vão tornar os preços mais acessíveis para o consumidor.

“Nenhuma empresa vai comprar refinaria aqui pra vender a preço nacional. A verdade é que está se criando uma situação que será preciso subsidiar o importador para extinguir o PPI”, afirmou.

A estatal e o pré-sal

Diante da correlação de forças travada dentro da Petrobras, Rosangela teme pela desconstrução do conhecimento acumulado ao longo de décadas. Para ela, a petroleira foi criada contra tudo e contra todos. Mesmo as suas proezas, como a descoberta do pré-sal, foram subestimadas. “Diziam que não havia petróleo no mar. Provamos que estavam errados. Das águas rasas até o mergulho no pré-sal, tentaram minimizar as descobertas, inclusive a mídia”, disse a representante dos trabalhadores.

Rosangela assegura que não fosse a Petrobras uma empresa estatal, não haveria a descoberta do pré-sal. Segundo ela, uma empresa privada não poderia bancar tamanho investimento e incerteza sob risco de dar um prejuízo monumental. “Tá errado? Não, não tá errado. É a limitação natural de uma empresa privada”, diz ela. Por isso, afirma Rosangela, não faz sentido privatizá-la na hora de colher os frutos de décadas de esforços e investimentos. “Agora todo mundo quer comprar”, conclui.

Na direção atual, a geofísica vê a Petrobras encolhendo sua atuação com foco no eixo Rio-São Paulo. Sob a ótica de curto prazo, prevalece a visão financista de maximização do lucro no menor tempo possível. Mas a longo prazo, alerta, a mutilação ameaça sua sustentabilidade. Diante disso, chama atenção para a necessidade de interromper o desinvestimento, que já saneou a dívida, e investir na transição energética.
“A Petrobras virou uma máquina de dividendos. O que ela distribuiu no ano passado corresponde a cerca de 20% do seu valor de mercado. O preço que se paga não é apenas a destruição dos ativos da empresa, mas a destruição do conhecimento, e isso é muito sério”, advertiu Rosangela.