Transportadora de gás NTS apresenta projeto de R$ 12 bi: investimento grandioso ou irrisório?

A Nova Transportadora do Sudeste (NTS) informou que pretende investir R$ 12 bilhões nos próximos oito anos na ampliação da capacidade de transporte dos seus dutos e estocagem de gás natural liquefeito (GNL). Esse é o primeiro “grande” investimento anunciado pela empresa em cinco anos, desde que comprou a transportadora de gás da Petrobrás. Mas esse investimento deve mesmo ser considerado tão grandioso?
A NTS era uma subsidiária da Petrobrás. A empresa é responsável pelo transporte de 50% do gás natural consumido no Brasil e controladora da malha de gasodutos mais estratégica do país: 2 mil quilômetros de dutos que interligam toda a região Sudeste.


A empresa foi adquirida pelo fundo de investimento canadense Brookfield, em 2017. Desde então, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), vem acumulando lucros e receitas recordes às custas da estatal, que agora precisa alugar a preços de mercado os dutos que construiu e que lhe pertenciam. A Petrobrás gasta, em média, R$ 1 bilhão por trimestre com aluguel de dutos, indica o levantamento.
Só em seu primeiro ano de operação como empresa privada, de acordo com a Aepet, a NTS registrou lucro líquido de R$ 1,8 bilhão, com alta de 87,2% frente ao ano anterior, sendo que as receitas quintuplicaram em relação a 2016. A empresa chegou ao primeiro lugar no ranking setorial de Transporte e Logística.

Estudos do professor do Instituto de Economia da UFRJ e pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), Eduardo Costa Pinto, apontam que em 2020 a NTS ficou na 2ª posição em termos de retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) entre todas as empresas de capital, registradas na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Ele destaca ainda que toda receita de serviços da transportadora é resultado direto dos contratos de transporte assinados com a Petrobrás, que é a única cliente da NTS.

Com tantos resultados financeiros estupendos desde que foi privatizada, não dá para considerar que o plano de investimento apresentado pela empresa seja algo tão notável. Na verdade, é um valor irrisório diante da rentabilidade da NTS e das necessidades do país.

A venda da NTS, como também da TAG, foi um péssimo negócio para a Petrobrás, que passou a alugar independentemente do uso, os dutos que erigiu e eram seus. E, além disso, traz sérios riscos para o escoamento da produção de gás natural e petróleo da estatal, que agora depende de terceiros para ter acesso à essa infraestrutura. Fatos como esses demonstram como o desmonte e a privatização da Petrobrás têm sido prejudiciais para a companhia e o país. Quem ganhou com essa venda? Com certeza, não foi a Petrobrás, nem o Brasil.